sexta-feira, 24 de julho de 2009

Murakami e importância relativa da compreensão

Tenho um amigo que me disse, mais do que uma vez, que não é preciso compreender algo para gostar - "Muita gente vê um filme do Bergman e não entende do que é que ele está a falar, mas isso não impede de gostar .Nem os pode impedir ..."

Indeed, Diogo. Isso aconteceu-me recentemente ao ler "After Dark - Os passageiros da noite", do japonês Haruki Murakami.



Foi o meu segundo contacto com livros do escritor. O primeiro foi ( mais ou menos ) assim :

Eu -"Boa tarde."

Gajo da Bertrand : "Boa tarde."

Eu - " Preciso que me recomende um livro... é para oferta. E a pessoa a quem eu quero oferecer o livro não lê muito, mas gosta de romances, com finais felizes e isso."

Gajo da Bertrand : "Hmm... Isso é um bocado vago. Tem algum autor em mente?"

Eu - "Nem por isso... o meu conceito de romance é bem diferente do da minha mãe - é para ela, o livro. Ouvi falar de um romancista japonês, mas não me lembro o nome ..."

Gajo da Bertrand : "Murakami? Deve ser ele. "

Eu- "Sim, acho que sim"

Isso foi em Dezembro de '07 . Comprei o "Norwegian wood", como prenda. A minha mãe leu as primeiras 20 páginas. Só. Apenas.

Algures em Junho, comecei a ler o "After Dark" - o meu segundo contacto com o autor.
Bastaram meia dúzia de linhas para chegar a uma conclusão : o sacana escreve bem.

Murakami descreve, de forma poética e cinzenta, uma noite na cidade de Tóquio ( entre as 23:55 e 05:50 ) e os acasos ( alguns cruéis, outros cómicos ) que juntam as várias personagens.

Temos Takahashi, o músico desencantado/ingénuo. Mari, a alienada e a sua irmã, Eri, no seu sono profundo . Temos a prostituta chinesa, que foi espancada por um homem de família que faz tudo para não ter que estar com a sua família ; e a gerente do motel, que outrora corria o mundo enquanto wrestler . Temos o chulo, na sua mota, com os seus monossílabos .

O tema recorrente? Alienação. Uma humanidade desumana, e um quadro ( por vezes muito sério, por vezes sarcástico ) bem cinzento sobre tudo e todos.

Agora, se me perguntarem se eu percebi ao que ele se refere com a cena da-Eri-ter-sido-sugada-para-o-interior-de-uma-TV ou do espelho-que-captura-reflexos-de-forma-totalmente-aleatória ( e outras coisas que nem vale a pena tentar descrever ) ... eu digo que não percebi. Mas não me impede de gostar.

Recomendo Murakami e o seu "After Dark" ( entretanto já li mais 2 livros dele, mas não os recomendo tanto quanto o "After Dark" ) da mesma forma que recomendo David Lynch : com moderação , atenção e uma mente bem aberta.

4 comentários:

  1. Já me tinhas falado do "After Dark". Estou curioso, talvez compre.

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  2. Bem, vim já ler a crítica e gostei também. Tiveste alguma personagem preferida? A minha foi a Naoku, a wrestler. Não perguntes bem porquê...

    É verdade, tenho um outro blog, o Lydo e Opinado, e lá tenho umas 8 críticas minhas a livros dele, se quiseres. :P

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  3. Já li várias críticas lá no Lydo e Opinado,mas não sabia que era teu!

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