quarta-feira, 21 de outubro de 2009

T_P_C_J_D

Jornalismo Digital

-

A Pontualidade e o Jornalismo


Falar de pontualidade é falar de tempo, especialmente de tempo perdido e que não pode ser recuperado. Já dizia o povo, que “quem espera, desespera” e é bem verdade : poucas coisas conseguem ser mais desesperantes do que esperar por alguém que se atrasou por qualquer razão.

Mas porque é que esperar por alguém que ( propositadamente, ou não ) se atrasou é tão irritante? Porque aprendemos a associar a pontualidade à normalidade. Enquanto esperamos, dificilmente conseguimos fazer algo útil com o nosso tempo, simplesmente porque estamos à espera. A pessoa que se atrasou controla, de certa forma, o nosso tempo. Controlando o nosso tempo, controla, também, por breves instantes, a nossa vida. No quotidiano, esperamos sempre a pontualidade para que tudo funcione normalmente, logo um atraso é algo a evitar. Um atraso pode, por exemplo, significar o fim de uma relação pessoal. Na vertente profissional, um atraso pode significar o despedimento.

O narrador de “ Clube de Combate”, de Chuck Palahniuk, informa o leitor que “ a tua vida é isto e está a chegar ao fim, um minuto de cada vez”. O contexto é outro , mas vai dar à mesma finalidade : se combinamos algo com alguém, esperamos que essa pessoa seja pontual porque o tempo é demasiado preciso para ser perdido ; é irrecuperável, e todas as pessoas detestam sentir que estão a perder tempo.O mundo avança a um ritmo tão elevado que perder tempo é perder o “fio à meada”. Todos os sectores da sociedade dependem dos horários para funcionar normalmente ; os horários estão ligados não só a vida profissional de cada um, mas também à vida pessoal. É uma questão de organização, que se estende a todos os aspectos da vida em sociedade, que abrange tudo e todos. Especialmente numa época em que as noticias duram cada vez menos tempo, são cada vez mais efemeras, essa pontualidade, esse compromisso com o tempo torna-se ainda mais importante. Um jornalista tem cada vez menos tempo e os seus prazos a cumprir ficam mais apertados ; um “minuto” perdido pode significar a diferença entre uma reportagem que fica na gaveta e uma reportagem que ainda vai a tempo de fazer parte da nova edição de um jornal. O jornalismo é uma profissão que muitas vezes depende do esforço conjunto, por isso cada elemento do grupo tem que ter a sua parte do trabalho feita a horas. Um bom exemplo disto seria um noticiario radiofonico : cada um dos reporteres tem que estar em condições, tem que estar preparado para ir para o ar na altura em que é suposto. Até mesmo nos noticiarios televisivos: perder oportunidades de reportagem,entrevista ou noticia por falta de pontualidade é inadmissivel. As noticias são noticias durante um curto intervalo de tempo, e a sociedade espera e exige, por parte dos jornalistas, um tratamento pontual da informação. Não é à toa que Chris Frost, no seu livro “Journalism Ethics and Regulation”, lista a pontualidade entre as caracteristicas fundamentais que definem o bom jornalista, juntamente com a habilidade em reconhecer boa materia para uma noticia,entre outras.

O hábito de levar as horas dos compromissos marcados bem a sério serve para definir uma das características mais importantes de um país. Falo da Inglaterra e da famosa expressão “pontualidade britânica”. O Big Ben, no palácio de Westminster, em Londres, marca o tempo há seculos e a sua “sombra” lembra os habitantes da cidade que os horarios são para cumprir e que ninguém gosta de esperar.

Ontem, no Transmission do Cais do Sodré os suecos pg.lost deviam subir ao palco às 22 horas. As expectativas eram altas ; era a estreia da banda na nossa capital . Quando o quarteto sueco( finalmente ) começou a tocar, já passavam das 22:35. Digamos que foi um atraso “normal”, foi um atraso dentro do intervalo de tempo esperado. Pelo que amigos e conhecidos a viver em Londres me dizem, até os horarios dos eventos são levados a sério ; em Londres, um concerto marcado para as 22 horas, começa às 22 horas. Mesmo às 22 horas. Chocante! Especialmente para quem está habituado a que um concerto marcado para as 22 horas comece algures entre as 22:45 e as 23:30 . Isto diz algo sobre a cultura de uma nação.

A verdade é que os ingleses costumam levar bem a sério a pontualidade e são conhecidos por isso; muitas das outras sociedades estão tão habituadas a ter que enfrentar a falta de pontualidade que nem conseguem apreciar a beleza do oposto.Para terminar, e já que estava a falar do exemplo de pontualidade inglês, aproveito para citar William Shakespeare : “Better three hours too soon than a minute too late.


Vitor Bruno Pereira – a20076149

Comunicação e Jornalismo


Sem comentários:

Enviar um comentário